O OFÍCIO DE ESCREVER
Lendo é que fico sabendo.
O que escrevi já caiu
na ida. Não me pertence.
Leio e me assombro: as palavras
que arrumei com paciência,
severo de inteligência,
cuidando bem da cadência,
perseverante, escolhendo
não escondo, as mais sonoras,
e as que gostam mais de mim.
Dando a cada uma o lugar
merecido no meu verso
(e que desta ciência os segredos
me deu o tempo de ofício,
um exercício de anos)
Pois as palavras começam
a dizer coisas que nunca
ousei pensar nem sonhar,
pássaros desconhecidos
pousando no meu pomar.
É quando descubro a rosa
— rosa em carne de palavra,
não é rosa da roseira —
que chamei para o meu poema,
rosa linda, venha cá,
venha enfeitar o meu canto,
se transmuda, mal a leio,
num sonho que vai se abrir,
no espinho que vai ferir.
Só nesse instante descubro
que a rosa, para ser rosa,
no esplendor da identidade
com qualquer rosa do mundo
precisa ser inventada.
O que escrevi já caiu
na ida. Não me pertence.
Leio e me assombro: as palavras
que arrumei com paciência,
severo de inteligência,
cuidando bem da cadência,
perseverante, escolhendo
não escondo, as mais sonoras,
e as que gostam mais de mim.
Dando a cada uma o lugar
merecido no meu verso
(e que desta ciência os segredos
me deu o tempo de ofício,
um exercício de anos)
Pois as palavras começam
a dizer coisas que nunca
ousei pensar nem sonhar,
pássaros desconhecidos
pousando no meu pomar.
É quando descubro a rosa
— rosa em carne de palavra,
não é rosa da roseira —
que chamei para o meu poema,
rosa linda, venha cá,
venha enfeitar o meu canto,
se transmuda, mal a leio,
num sonho que vai se abrir,
no espinho que vai ferir.
Só nesse instante descubro
que a rosa, para ser rosa,
no esplendor da identidade
com qualquer rosa do mundo
precisa ser inventada.
El OFÍCIO DE ESCRIBIR
Es leyendo como
aprendo.
Lo que escribí ya cayó
en la ida. Ya no es
mío.
Leo y me asombro:
palabras
que dispuse con
paciencia,
firme con su
inteligencia,
cuidando de la
cadencia,
perseverante,
escogiendo
no niego, las más
sonoras,
y las que gustan de mí.
Dando a cada una el
lugar
más apropiado en mi
verso
(que de esta ciencia el
secreto
me lo dio el tiempo de
oficio,
muchos años de
ejercicio)
Pues las palabras
comienzan
a decir cosas que nunca
osé pensar ni soñar,
pájaros desconocidos
posándose en mi pomar.
Es cuando encuentro la
rosa
— rosa en carne de
palabra,
que no rosa de rosal —
que convoqué a mi
poema,
linda rosa, venga aquí,
venga a adornar mi
canción,
si se altera, mal la
leo,
en un sueño que va a
abrirse,
en espino que va a
herir.
Entonces sólo descubro
que la rosa, para
serlo,
en brillo de identidad
con cualquier rosa del
mundo
Thiago de Mello,
Campo de Milagros,
1998.
(Versión
de Pedro Casas Serra)
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