O ALFANGE DO TEMPO
Para Antonio Faria
O tempo é o grande milagre
da vida do homem no mundo.
Não tem começo nem fim.
Mas está vivo, animal
respirando imenso em tudo
que a gente quer, sonha e faz.
O tempo que já passou
te conta como vai ser
o tempo que vai chegar.
Tudo leva a sua marca,
de pétala ou de ferrão.
Tudo traz o seu condão:
a criança correndo; o rio
passando, a rosa se abrindo,
a lágrima da alegria,
o silêncio da amargura,
a luz-mansa da ternura,
o sol negro da pobreza.
O tempo é o nada que é nada.
O tempo é o tudo que é tudo,
o tudo que vira nada,
o nada virando amor,
o amor inventando estrelas,
a mais linda se apagou
na fronte da moça amada.
O tempo está no teu peito
clamando nas coronárias,
mas se esconde nas funduras
dos neurônios quando sonhas.
Está no fogo e no orvalho,
fermenta o pão que não chega,
arde o forno da esperança.
Alma do tempo é a mudança
que come o que vai mudando
e depois dorme sonhando
disfarçado de memória.
Nada perdura na vida,
a não ser o próprio tempo,
finge que passa, mas fica.
Imutável, modifica.
O tempo é o sol do milagre.
Cuidado, ele está chegando
na claridão da manhã.
A noite inteira ficou
no seu passo, te esperando,
de espreita em teu próprio sono.
Vem vindo para comer
na palma da tua mão.
Trata bem dele, aproveita,
enquanto há tempo, o que o tempo
permite ao teu coração.
Quem sabe ele vem trazendo
um alfange? Ninguém sabe.
Pode ser uma canção.
O tempo é o grande milagre
da vida do homem no mundo.
Não tem começo nem fim.
Mas está vivo, animal
respirando imenso em tudo
que a gente quer, sonha e faz.
O tempo que já passou
te conta como vai ser
o tempo que vai chegar.
Tudo leva a sua marca,
de pétala ou de ferrão.
Tudo traz o seu condão:
a criança correndo; o rio
passando, a rosa se abrindo,
a lágrima da alegria,
o silêncio da amargura,
a luz-mansa da ternura,
o sol negro da pobreza.
O tempo é o nada que é nada.
O tempo é o tudo que é tudo,
o tudo que vira nada,
o nada virando amor,
o amor inventando estrelas,
a mais linda se apagou
na fronte da moça amada.
O tempo está no teu peito
clamando nas coronárias,
mas se esconde nas funduras
dos neurônios quando sonhas.
Está no fogo e no orvalho,
fermenta o pão que não chega,
arde o forno da esperança.
Alma do tempo é a mudança
que come o que vai mudando
e depois dorme sonhando
disfarçado de memória.
Nada perdura na vida,
a não ser o próprio tempo,
finge que passa, mas fica.
Imutável, modifica.
O tempo é o sol do milagre.
Cuidado, ele está chegando
na claridão da manhã.
A noite inteira ficou
no seu passo, te esperando,
de espreita em teu próprio sono.
Vem vindo para comer
na palma da tua mão.
Trata bem dele, aproveita,
enquanto há tempo, o que o tempo
permite ao teu coração.
Quem sabe ele vem trazendo
um alfange? Ninguém sabe.
Pode ser uma canção.
Thiago de Mello, Campo
de Milagres, 1998.
LA ESPADA DEL TIEMPO
Para Antonio Faria
El tiempo es el gran
milagro
de tu vida en este
mundo.
No tiene inicio ni fin.
Mas está vivo, inmensa
bestia respirando en
todo
lo que quieres, sueñas
y haces.
El tiempo que ya pasó
te cuenta como será
el tiempo que va a
venir.
Todo lleva su señal,
de pétalo o de aguijón.
de pétalo o de aguijón.
Todo trae su presente:
el niño corriendo; el
río
yendo, la rosa
abriendo,
la lágrima de alegría,
el silencio de
amargura,
la luz mansa de
ternura,
el sol negro de
pobreza.
El tiempo es nada que
es nada.
El tiempo es todo que
es todo,
todo que se vuelve
nada,
nada volviéndose amor,
amor inventando
estrellas,
la más linda se apagó
en la frente de la amada.
en la frente de la amada.
El tiempo corre en tu
pecho
clamando en las
coronarias,
pero se esconde en lo
hondo
de neuronas cuando
sueñas.
Está en el fuego y
rocío,
fermenta el pan que no
llega,
enciendo horno de esperanza.
enciendo horno de esperanza.
Alma del tiempo es el
cambio
que engulle el que va
mudando
y después duerme
soñando
disfrazado de memoria.
Nada perdura en la
vida,
a no ser el propio
tiempo,
finge pasar, pero
queda,
Inmutable se transforma.
Inmutable se transforma.
El tiempo es sol de
milagro.
Cuidado, está viniendo
en la luz de la mañana.
La noche entera quedó
a su paso, esperándote,
espía en tu propio
sueño.
Viniendo para comer
en la palma de tu mano.
Trátalo bien,
aprovecha,
mientras es tiempo, lo
que él
permite a tu corazón.
¿Quién sabe si va
portando
una espada? No se sabe.
Thiago de Mello,
Campo de milagros, 1998.
(Versión de Pedro
Casas Serra)
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