DESDENHO DO PRIVILÉGIO
Assistente de mim, de
quando e como
o ser me transparece no que faço,
no que profiro ou sinto, não me agrado
do meu jeito infeliz de amar. Me escondo
a cara, mais de mim do que dos olhos
queridos, alguns deles me adivinham.
A verdade se embaça em meu espelho,
quando as nódoas me quero ver. Desdenho
do privilégio de me ser tão próximo,
tão íntimo das minhas espessuras
e não poder sequer saber quem sou.
Nem porque instalado estou num mundo
de cuja origem, nem a religião
com seus dogmas de pedra, nem a mágica
deslumbrante da física celeste
— não me convencem. Só me vale a vida.
o ser me transparece no que faço,
no que profiro ou sinto, não me agrado
do meu jeito infeliz de amar. Me escondo
a cara, mais de mim do que dos olhos
queridos, alguns deles me adivinham.
A verdade se embaça em meu espelho,
quando as nódoas me quero ver. Desdenho
do privilégio de me ser tão próximo,
tão íntimo das minhas espessuras
e não poder sequer saber quem sou.
Nem porque instalado estou num mundo
de cuja origem, nem a religião
com seus dogmas de pedra, nem a mágica
deslumbrante da física celeste
— não me convencem. Só me vale a vida.
Thiago de Mello, Campo
de milagres, 1998.
DESDEÑO EL PRIVILEGIO
Espectador de mí
mismo, de cuándo y cómo
mi ser se trasluce en
lo que hago,
en lo que digo o
siento, no me gusta
mi infeliz modo de
amar. Oculto
la cara, más de mí
que de los ojos
queridos, pero algunos
me adivinan.
La verdad se empaña en
mi espejo,
cuando quiero ver mis
manchas. Rechazo
el privilegio de
hallarme tan cercano,
tan íntimo a mis
espesuras
y no poder siquiera
saber quién soy.
Porque estoy instalado
en un mundo
de cuyo origen, ni la
religión
con sus pétreos
dogmas, ni la magia
deslumbrante de la
física celeste
Thiago de Mello,
Campo de milagros, 1998.
(Versión de Pedro
Casas Serra)
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