viernes, 31 de agosto de 2012

"Segunda canção de muito longe"


Havia um corredor que fazia cotovelo:
Um mistério encanando com outro mistério, no escuro...
Mas vamos fechar os olhos
E pensar numa outra cousa...

Vamos ouvir o ruído cantado, o ruído arrastado das correntes no algibe,
Puxando a água fresca e profunda.
Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas.
Nós nos debruçávamos à borda, gritando os nomes uns dos outros,
E lá dentro as palavras ressoavam fortes, cavernosas como vozes de leões.
Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu.
Havia os azulejos reluzentes, o muro do quintal, que limitava o mundo,
Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais, os grilos e as estrelas...
Havia todos os ruídos, todas as vozes daqueles tempos...
As lindas e absurdas cantigas, tia Tula ralhando os cachorros,
O chiar das chaleiras...
Onde andará agora o pince-nez da tia Tula
Que ela não achava nunca?
A pobre não chegou a terminar a Toutinegra do Moinho,
Que saía em folhetim no Correio do Povo!...
A última vez que a vi, ela ia dobrando aquele corredor escuro.
Ia encolhida, pequenininha, humilde. Seus passos não faziam ruído.
E ela nem se voltou para trás!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Segunda canción de muy lejos

Había un pasillo que hacía recodo:
Un misterio encajando con otro misterio, en lo oscuro...
Pero vamos a cerrar los ojos
Y pensar en otra cosa...

Vamos a oír el ruido cantado, el ruido arrastrado de las corrientes en el aljibe,
Impulsando el agua fresca y profunda.
Había en el arco del aljibe enredaderas trémulas.
Nosotros nos asomabamos al borde, gritando los nombres los unos de los otros,
Y allá dentro las palabras resonaban fuertes, cavernosas como voces de leones.
Nosotros eramos cuatro, una prima, dos negritos y yo.
Había los azulejos relucientes, el muro del patio, que limitaba el mundo,
Una ceiba enorme y, siempre y cada vez más, los grillos y las estrellas...
Había todos los ruidos, todas las voces de aquellos tiempos...
Las lindas y absurdas canciones, tía Tula riñendo a los cachorros,
El silbar de las teteras...
¿Dónde andarán ahora los quevedos de tía Tula
Que ella no hallaba nunca?
¡La pobre no llegó a terminar la Curruca del Molino,
Que salía en folletín en el Correo del Pueblo!...
La última vez que la vi, iba doblando aquel pasillo oscuro.
Iba encogida, pequeñita, humilde. Sus pasos no hacían ruido.
¡Y ni siquiera se volvió!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

martes, 28 de agosto de 2012

"Canção de muito longe" de Mario Quintana


Foi-por-cau-sa-do-bar-quei-ro

E todas as noites, sob o velho céu arqueado de bugigangas,
A mesma canção jubilosa se erguia. /elevaba

A canoooavirou
Quemfez elavirar? uma voz perguntava.

Os luares extáticos...

A noite parada...

Foi por causa do barqueiro,
Que não soube remar.

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de muy lejos

Fue-por-cau-sa-del-bar-que-ro

Y todas las noches, bajo el viejo cielo abovedado de lentejuelas,
La misma alegre canción se alzaba.

La canoooavolcó
¿Quién le dará la vuelta? una voz preguntaba.

Luces de luna extasiadas...

La noche quieta...

Fue por causa del barquero,
Que no supo remar.

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 27 de agosto de 2012

"Canção da janela aberta" de Mario Quintana


Passa nuvem, passa estrela,
Passa a lua na janela...

Sem mais cuidados na terra,
Preguei meus olhos no Céu.

E o meu quarto, pela noite
imensa e triste, navega...

Deito-me ao fundo do barco,
Sob os silêncios do Céu.

Adeus, Cidade Maldita,
Que lá se vai o teu Poeta.

Adeus para sempre, Amigos...
Vou sepultar-me no Céu!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de la ventana abierta

Pasa nube, pasa estrella,
Pasa luna en la ventana...

Sin más cuidado en la tierra,
Alcé mis ojos al Cielo.

Y mi cuarto, por la noche
inmensa y triste, navega...

Me eché en el fondo del barco,
Bajo el silencio del Cielo.

Adiós, Ciudad Maldecida,
Que allá se va tu Poeta.

Adiós para siempre, Amigos...
¡Voy a enterrarme en el Cielo!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 24 de agosto de 2012

"Canção da chuva e do vento" de Mario Quintana


Dança, Velha. Dança. Dança.
Põe um pé. Põe outro pé.
Mais depressa. Mais depressa
Põe mais pé. Pé. Pé.

Upa. Salta. Pula. Agacha.
Mete pé e mete assento.
Que o velho agita, frenético,
O seu chicote de vento.

Mansinho agora... mansinho
Até de todo caíres...
Que o Velho dorme de velho
Sob os arcos do Arco-Íris.

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de la lluvia y el viento

Baila, Vieja. Baila. Baila.
Pon un pie. Pon otro pie.
Más deprisa. Más deprisa
Pon más pie. Pie. Pie.

Aúpa. Brinca. Salta. Agacha.
Mete el pie y mete el culo.
Que el viejo agita, frenético,
Su zurriagazo de viento.

Suavito ahora... suavito
Hasta que caigas del todo...
Que el Viejo duerme de viejo
Bajo arcos del Arco-Iris.

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 23 de agosto de 2012

"Canção do charco"


Uma estrelinha desnuda
Está brincando no charco.

Coaxa o sapo. E como coaxa!
A estrelinha dança em roda.

Cricrila o grilo. Que frio!
A estrelinha pula, pula.

Uma estrelinha desnuda
Dança e pula sobre o charco.

Para enamorá-la, o sapo
Põe seu chapéu de cozinheiro...

Uma estrelinha desnuda!

O grilo, que é pobre, esse
Escovou seu traje preto...

Desnuda por sobre o charco!

Uma estrelinha desnuda
Brinca... e de amantes não cuida...

Que brancas são seus pezinhos...
Que nua!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción del charco

Una estrellita desnuda
Está jugando en el charco.

Croa el sapo. ¡Y cómo croa!
La estrellita juega al corro.

Canta el grillo. ¡Qué frescura!
La estrellita salta, salta.

Una estrellita desnuda
Salta y baila sobre el charco.

Para enamorarla, el sapo
Va en gorro de cocinero...

¡Una estrellita desnuda!

El grillo, que es pobre, ése
Cepilló su traje negro...

¡Desnuda encima del charco!

Una estrellita desnuda
Juega... de amor no se cuida...

Qué blancos sus piececitos...
¡Qué desnuda!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

martes, 21 de agosto de 2012

"Canção do suicida" de Mario Quintana


De repente, não sei como
Me atirei no contracéu.
À tona dágua ficou
Ficou dançando o chapéu.

E entre cascos afundados,
Entre anêmonas azuis,
Minha boca foi beber
Na taça do Rei de Tule.

Só minh'alma aqui ficou
Debruçada na amurad,
Olhando os barcos... os barcos!...
Que vão fugindo do cais.

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción del suicida

De repente, no sé cómo
Me eché al reflejo en el agua.
En el reflejo quedó
Quedó bailando el sombrero.

Y entre cascos sumergidos,
Entre anémonas azules,
Mi boca se fue a beber
En copa del Rey de Thule.

Sólo mi alma aquí quedó
Volcada sobre la amura,
Mirando barcos... ¡los barcos!...
Que van huyendo del muelle.

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 20 de agosto de 2012

"A canção da menina e moça" de Mario Quintana


Para Gilda Marinho

Uma paisagem com um só coqueiro.
Que triste!
E o companheiro?

Cabrinha que sobes o monte pedrento.
Só, contra as nuvens.
Será teu esposo o vento?

O meu esposo há de cheirar a tronco,
Como eu cheiro à flor.

Um coração não cabe num só peito:
Amor... Amor...

Uma paisagem com um só coqueiro...
Uma igrejinha com uma torre só...
Sem companheira... Sem companheiro...
Ó dor!

O meu esposo há de cheirar a tronco,
Como eu cheiro... como eu cheiro
A amor...

Mario Quintana (Canções, 1946)


La Canción de la niña y moza

Para Gilda Marino

¿Un paisaje con un solo cocotero?
¡Qué triste!
¿Y el compañero?

Cabrita que subes el monte abrupto.
Sola, contra las nubes.
¿Será tu esposo el viento?

Mi esposo ha de oler a tronco,
Como yo huelo a flor.

Un corazón no cabe en un sólo pecho:
Amor... Amor...

Un paisaje con un solo cocotero...
Una iglesia con una torre sólo...
Sin compañera... Sin compañero...
¡Óh, dolor!

Mi esposo ha de oler a tronco,
Como yo huelo... como yo huelo
A amor...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

jueves, 16 de agosto de 2012

"Canção do dia de sempre" de Mario Quintana


Para Norah Lawson

Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como essas nuvens do céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiencia... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomençar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción del día de siempre

Para Norah Lawson

Mejor vivir día a día...
La vida, así, jamás cansa...

Vivir sólo de momentos
Como esas nubes del cielo...
Y ganar, toda la vida,
Inexperiencia... esperanza...

Y la rosa de los vientos
En la copa del sombrero.

Nunca des un nombre a un río:
Otro río es al pasar.

Nada jamás continúa,
¡Todo vuelve a comenzar!

Y sin ninguna añoranza
De las ocasiones idas,
Tiro la rosa del sueño
En tus manos distraídas...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

miércoles, 15 de agosto de 2012

"Canção ballet" de Mario Quintana


Para Edy Dutra Da Costa

Ele sozinho passeia
Em seu palácio invisível.
Linda moça risca um riso
Por trás do muro de vidro.

Risca e foge, num adejo.
Ele pára, de alma tonta.
Um beijo brota na ponta
Do galho do seu desejo.

E pouco a pouco se achegam.
Põem a palma contra a palma.
Mas o frio, o frio do vidro
Lhe penetra a própria alma!

"Ai do meu Reino Encantado,
Se tudo aquí é impossível...
Pra que palácio invisível
Se o mundo está do outro lado?"

E inda busca, de alma louca,
Aquele lábio vermelho.
Ai, o frio da própria boca!
O amor é um beijo no espelho...

Beija e cai, com um engonço,
Todo desarticulado...
Linda moça, como um sonho,
Se dissipa do outro lado...

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción ballet

Para Edy Dutra De la Costa

Él, solitario pasea
Por su palacio invisible.
Linda moza lanza risa
Detrás del muro de vidrio.

Lanza y huye, en aleteo.
Él se para, el alma tonta.
Un beso brota en la punta
Del gajo de su deseo.

Y poco a poco se acercan.
Ponen palma contra palma.
Pero el frío, el frío vidrio
¡Le Penetra por el alma!

"Ay de mi Reino Encantado,
Si todo aquí es imposible...
¿Por qué un palacio invisible
Si el mundo está al otro lado?"

Y aún persigue, el alma loca,
El labio tan encarnado.
¡Ay, frío de propia boca!
Amor de un beso de espejo...

Besa y cae, como títere,
Todo desarticulado...
Linda moza, como un sueño,
Se disipa al otro lado...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 13 de agosto de 2012

"Canção de inverno" de Mario Quintana


"Pinhão quentinho!
Quentinho o pinhão!"
(E tu bem juntinho
Do meu coração...).

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de invierno

"¡Piñón calentito!
Calentito el piñón!"
(Y tú bien juntito
A mi corazón...).

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

domingo, 12 de agosto de 2012

"Canção de bar" de Mario Quintana


Para Egydio Squeff

Barzhinho perdido
Na noite fria.
Estrela e guia
Na escuridão.
Que bem se fica!
Que bem! que bem!
Tal como dentro
De uma apertada
Quentinha mão...
E Rosa, a da vida...
E Verlaine que está
Coberto de limo.
E Rimbaud a seu lado,
O pobre menino...
E o Pedro Cachaça
Com quem me assustavam
(O tempo que faz!)
O Pedro tão nobre
Na sua desgraça...
E Villon sem um cobre
Que não pode entrar.
E o Anto que viaja
Pelo alto mar...
Se o Anto morrer,
Senhor Capitão,
Se o Anto morrer,
Não no deite ao mar!
E aqui tão bom...
E aqui tão bom!
Tal como dentro
De uma apertada
Quentinha concha...
E Rosa, a da vida,
Sentada ao balcão.
Barzinho perdido
Na noite fria,
Estrela e guia
Na turbação.
E caninha pura,
Da mais pura água,
Que poesia pura,
Ai seu poeta irmão,
A poesia pura
Não existe não!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de bar

Para Egydio Squeff

Barecito perdido
En la noche fría.
Estrella y guía
En la oscuridad.
¡Qué bien se está!
¡Qué bien! ¡qué bien!
Igual que dentro
De una apretada
Cálida mano...
Y Rosa, la de la vida...
Y Verlaine, todo
Cubierto de lodo.
Y Rimbaud a su lado,
El pobre muchacho...
Y el Pedro Cachaza
Con quien me asustaban
(¡Cuánto tiempo hace!)
El Pedro tan noble
En su adversidad...
Y Villon sin un cobre
Que no puede entrar.
Y el Antón que viaja
Por el alto mar...
Si el Antón muriera,
Señor Capitán,
Si el Antón muriera,
¡No lo arroje al mar!
Y aquí tan bien...
¡Y aquí tan bien!
Igual que dentro
De una apretada
Cálida concha...
Y Rosa, la de la vida,
Sentada en el mostrador.
Barecito perdido
En la noche fría,
Estrella y guía
En la turbación.
Y cañita pura,
De agua más pura,
Que poesía pura,
¡Ay poeta hermano,
La poesía pura
No existe no!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 11 de agosto de 2012

"Canção de torna-viagem" de Mario Quintana


Uma carta emcontrarei
Debaixo da minha porta.
Ordem da Filha do Rei?
Feitiço da Moira Torta?

A carta não abrirei.
Talvez me seja fatal.
Mas sobre o leito há uma rosa,
Há uma rosa e um punhal.

Que fiz de bem ou de mal
Pelos caminhos que andei?
Qual dos dois, rosa e punhal,
É o da Princesa e o do Rei?

Ai, tudo a carta diria,
A carta de sob a porta...
Se não se houvera sumido
Por artes da Moira Torta!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de emigrante

Una carta emcontraré
Por debajo de mi puerta.
¿Orden de la Hija del Rey?
¿Ardid de Parca Funesta?

La misiva no abriré.
Tal vez me sea fatal.
Sobre el lecho hay una rosa,
Una rosa y un puñal.

¿Qué hice yo de bien o mal
Por los caminos que andé?
Cual de ambos, rosa o puñal,
Es de Princesa o de Rey?

!Todo la carta diría¡,
La de debajo la puerta...
Si no se hubiese esfumado
¡Por mor de Parca Funesta!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 10 de agosto de 2012

"Canção da aia para o filho do rei" de Mario Quintana


Mandei pregar as estrelas
Para velarem teu sono.
Teus suspiros são barquinhos
Que me levam para longe...
Me perdi no céu azul
E tu, dormindo, sorrias.
Despetalei um estrela
Para ver se me querias...
Aonde irão os barquinhos?
Com que será que tu sonhas!
Os remos mal batem nágua...
Minhas mãos dormem na sombra.
A quem será que sorris?
Dorme quieto, meu reizinho.
Há dragões na noite imensa,
Há emboscadas nos caminhos...
Despetalei as estrelas,
Apaguei as luzes todas.
Só a luar te banha o rosto
E tu sorris no teu sonho.
Ergues o braço nuzinho,
Quase me tocas... A medo
Eu começo a acariciarte
Com à sombra de meus dedos...
Dorme quieto, meu reizinho.
Os dragões, com a boca enorme,
Estão comendo os sapatos
Dos meninos que não dormem...

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de aya para el hijo del rey

Mandé implorar las estrellas
Para velar por tu sueño.
Tus suspiros son barquitos
Que me van llevando lejos...
Me perdí en el cielo azul
Y tú, durmiendo, reías.
Yo despetalé una estrella
Para ver si me querías...
¿Adónde irán los barquitos?
¡Con qué será que tú sueñas!
Los remos no baten agua...
Mis manos duermen en niebla.
¿A quién será que sonríes?
Duerme en paz, mi reyecito.
Hay dragones en la noche,
Celadas en los caminos...
Despetalé las estrellas,
Apagué todas las luces.
Baña tu rostro la luna
Y tú sonríes en sueños.
Alzas nudo tu bracito,
Casi me tocas... Yo tengo
Mucho miedo a acariciarte
Con la sombra de mis dedos...
Duerme en paz, mi reyecito.
Dragones, de enorme boca,
Van comiendo los zapatos
De los niños que no duermen...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

miércoles, 8 de agosto de 2012

"Canção de junto do berço" de Mario Quintana


Não te movas, dorme, dorme
O teu soniho tranquilo.
Não te movas (diz-lhe a Noite)
Que ainda está cantando un grilo...

Abre os teus olhinhos de ouro
(O Dia lhe diz baixinho).
É tempo de levantares
Que já canta un passarinho...

Sozinho, que pode um grilo
Quando já tudo é revoada?
E o Dia rouba o menino
No manto da madrugada...

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de junto a la cuna

No te muevas, duerme, duerme
Tu sueñecito tranquilo.
Quieto (le dice la Noche)
Que aún está cantando un grillo...

Abre tus ojitos de oro
(Le dice el Día bajito).
Es tiempo de levantarse
Que ya canta un pajarito...

¿Qué puede hacer solo un grillo
Cuando ya todo es bandada?
Y el Día se lleva al niño
En manto de madrugada...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

martes, 7 de agosto de 2012

"Canção de domingo" de Mario Quintana


Que dança que não se dança?
Que trança não se destrança?
O grito que voou mais alto
Foi um grito de criança.

Que canto que não se canta?
Que reza que não se diz?
Quem ganhou maior esmola
Foi o Mendigo Aprendiz.

O céu estava na rua?
A rua estava no céu?
Mas o olhar mais azul
Foi só ela quem me deu!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de domingo

¿Qué baile no se desbaila?
¿Qué trenza no se destrenza?
La voz que voló más alto
Fue el grito de la crianza.

¿Qué canto que no se canta?
¿Qué rezo que no se dice?
Quién ganó mayor limosna
Fue el Pordiosero Aprendiz.

¿El cielo estaba en la calle?
¿La calle estaba en el cielo?
¡Pero el mirar más azul
Sólo ella me lo de dio!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

lunes, 6 de agosto de 2012

"Canção meio acordada" de Mario Quintana


Laranja! grita o pregoeiro.
Que alto no ar suspensa!
Lua de ouro entre o nevoeiro
Do sono que se esgarçou.
Laranja! grita o pregoeiro.
Laranja que salta e voa.
Laranja que vais rolando
Contra o cristal de manhã!
Mas o cristal da manhã
Fica além dos horizontes...
Tantos montes... tantas pontes...
(De frio soluçam as fontes...)
Porém fiquei, não sei como,
Sob os arcos da manhã.
(Os gatos moles do sono
Rolam laranjas de lã.)

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción medio despierta

¡Naranja! va el pregonero.
¡Qué alto en el aire suspensa!
Luna de oro entre la niebla
Del sueño que se rasgó.
¡Naranja! va el pregonero.
Naranja que salta y vuela.
¡Naranja que vas rodando
al cristal de la mañana!
Pero el cristal mañanero
Queda allende el horizonte...
Tantos montes... tantos puentes...
(De frío hipan las fuentes...)
Pero quedé, no sé como,
En arcos de la mañana.
(Los gatos vagos del sueño
Ruedan naranjas de allá.)

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

domingo, 5 de agosto de 2012

"Canção de nuvem e vento" de Mario Quintana


Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
Mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe...
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de nube y viento

Miedo de la nube
Miedo Miedo
Miedo de la nube que va creciendo
Que se va abriendo
Que no se sabe
Lo que va saliendo
Miedo de la nube Nube Nube
Miedo del viento
Miedo Miedo
Miedo del viento que va ventando
Que va hablando
Que no se sabe
Lo que va diciendo
Miedo del viento Viento Viento
Miedo del gesto
Mudo
Miedo del habla
Sorda
Que va moviendo
Que va diciendo
Que no se sabe...
Que bien se sabe
Que todo es nube que todo es viento
Nube y viento Viento ¡Viento!

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

sábado, 4 de agosto de 2012

"Canção de garoa" de Mario Quintana


Para Telmo Vergara

Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción de llovizna

Para Telmo Vergara

Encima de mi tejado,
Pirulín lulín lulín,
Un ángel, todo mojado,
Lloriquea en su flautín.

El reloj viene a tañer:
Los muelles crujen sin fin.
El retrato en la pared
Queda mirando hacia mí.

Llueve sin saber por qué...
¡Y todo fue siempre así!
Creo que voy a sufrir:
Pirulín lulín lulín...

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)

viernes, 3 de agosto de 2012

Maria (A Maria Lua)

MARIA


A Maria Lua


En una ciudad de piedras verdes

y montañas altas, Maria

se puso a escribir poesía:

hablaba del cielo y las estrellas,

de sueños, de vientos, de nubes

- de cómo corría tras ellas.

Desde su ventana, sus ojos

se abrían de noche, volaban,

cantaban, reían, lloraban.


En una ciudad de piedras verdes

y montañas altas, Maria

nos iluminaba como un faro

desde su ventana y nosotros

- mojados, cansados, vencidos -

hallábamos fuerzas en ella

que nos conducía y guiaba

tras ella a la Luna, la única,

la madre más bella. Maria

velaba en la noche: era estrella.


Pedro Casas Serra (03-08-2012)



jueves, 2 de agosto de 2012

"Canção do desencontro no terraço" de Mario Quintana


Estavas entre as algas afogada...
A boca dolorosa, olhos pendidos...

Rias como uma louca no terraço!
Perdão! Eu é que ria dentre os algas...

Eu é que ria dentre as algas verdes
Esse riso que têm os desamados.

Mentira! eu lia os extras do cardápio.
Tu deslizavas entre as nuvens altas!

Em cada nuvem pus um coreto de música.
Mandei soltar confete pelo céu azul.

E deitado no meio das lájeas desertas,
Cobri meu rosto com o teu lenço de seda escura.

Mario Quintana (Canções, 1946)


Canción del desencuentro en la terraza

Estabas entre algas ahogada...
La boca dolorosa, ojos bajados...

¡Reías como loca en la terraza!
¡No! Era yo quien reía entre algas...

Era yo quien reía entre algas verdes
Esa risa que tienen los no amados.

¡Falso! yo leía extras de la carta.
¡Tú deslizabas entre nubes altas!

En cada nube puse un quiosco de música.
Mandé soltar confeti por el cielo azul.

Y acostado en medio de las lajas desiertas,
Cubrí mi rostro con tu pañuelo de seda oscura.

Mario Quintana (Canções, 1946)
(versión de Pedro Casas Serra)