"Renúncia" de Maria Lua

"...E se meu barco torna a água turva e bravia,
perto de tua margem nunca mais meu barco remarei."
(Rabindranath Tagore)

Se tu quiseres
trancarei meu sorriso
opaco e silencioso
para que não te aborreçam
as mágoas
as incertezas
as névoas
que me afloram
do fundo da alma...

Se tu quiseres
fecharei meu coração
apaixonado e triste
para que não te toquem
esta sede aflita de ternura
nem esta brasa oculta de paixão
que escorrem
de meus olhos
de meus abraços
de meus versos...

Se tu quiseres
caminharei outro caminho
ainda que me custe
o naufrágio do meu sonho...
Eu renascerei da dor
além dos limites do tempo
e não permitirei
que meu vulto sombrio
traga uma só nuvem cinzenta
para o teu dia de Sol...

Maria Lua



Renuncia

"...Y si mi barco vuelve al agua turbía y brava,
junto a tu orilla nunca más mi barco acercaré."
(Rabindranath Tagore)

Si tú quieres
atrancaré mi sonrisa
opaca y silenciosa
para que no te aburran
las tristezas
las incertezas
las nieblas
que me afloran
del fondo del alma...

Si tú quieres
cerraré mi corazón
enamorado y triste
para que no te alcance
esta sed apenada de ternura
ni esta brasa oculta de pasión
que escurren
de mis ojos
de mis abrazos
de mis versos...

Si tú quieres
andaré otro camino
aunque me cueste
el naufragio de mi sueño...
Yo renaceré del dolor
más allá de los límites del tiempo
y no permitiré
que mi aspecto sombrío
lleve una sola nube gris
a tu día de Sol...

Maria Lua
(versión de Pedro Casas Serra)