martes, 19 de enero de 2016

“JÁ FAZ TEMPO QUE ESCOLHI” de Thiago de Mello (De Mormaço na Floresta, 1984)

JÁ FAZ TEMPO QUE ESCOLHI

A luz que me abriu os olhos
para a dor dos deserdados
e os feridos de injustiça,
não me permite fechá-los
nunca mais, enquanto viva.
Mesmo que de asco ou fadiga
me disponha a não ver mais,
ainda que o medo costure
os meus olhos, já não posso
deixar de ver: a verdade
me tocou, com sua lâmina
de amor, o centro do ser.
Não se trata de escolher
entre cegueira e traição.
Mas entre ver e fazer
de conta que nada vi
ou dizer da dor que vejo
para ajudá-la a ter fim,
já faz tempo que escolhi.
Thiago de Mello, Mormaço na Floresta, 1981.


YA HACE TIEMPO QUE ESCOGÍ

La luz que me abrió los ojos
al mal de los desahuciados
y tocados de injusticia,
no me permite cerrarlos
nunca más, en tanto viva.
Aunque de asco o fatiga
me disponga a no ver más,
aunque el sobresalto cosa
mis ojos, yo ya no puedo
dejar de ver: la verdad
me tocó, con su cuchilla
de amor, el centro del ser.
No se trata de escoger
entre ceguera y traición.
Pero entre ver y hacer
como si nada yo vi
o hablar del dolor que veo
para ayudar a su fin,
ya hace tiempo que escogí.

Thiago de Mello, Bochorno en la selva, 1981.
(Versión de Pedro Casas Serra)

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