COM
UM RIO
Ser
capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.
Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.
Se tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de água impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.
Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.
Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.
Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.
Se tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.
Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de água impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.
Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.
Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.
Thiago
de Mello, Mormaço na
floresta,
1981.
CON UN RÍO
Ser capaz, como un río
que lleva él solo
la canoa que se cansa,
de servir de camino
para la esperanza.
Y de lavar de lo
impoluto
la desgracia de la
mancha,
como el río que lleva,
y lava.
Crecer para entregar
en la distancia callada
un poder de canción,
como el río descifra
el secreto de la
tierra.
Si es tiempo de
descender,
guardar el don de la
fuerza
sin dejar de continuar.
Y hasta desaparecer
para, subterráneo ya,
aprender a resurgir
y cumplir, en pleno
curso,
el oficio de querer.
Como un río, aceptar
esas olas imprevistas
hechas de aguas impuras
que hacen flotar la
verdad
desde la profundidad.
Como un rio, que nace
de otros, saber seguir
existiendo junto a
otros
y prolongándose en
otros
y construir el
encuentro
con las colosales aguas
del océano infinito.
En movimiento, cambiar,
pero sin dejar de ser
el mismo ser que
cambia.
Como un rio.
Thiago de Mello,
Bochorno en la selva, 1981.
(Versión de Pedro
Casas Serra)
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