"Sem remédio", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
No sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é ja vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)


SIN REMEDIO

Aquellos que me tienen mucho amor
No saben lo que siento y lo que soy...
No saben que pasó, un día, el Dolor
Ante mi puerta y, ese día, entró.

¡Y desde entonces siento este pavor,
Este frío que va por mí, y que heló
Lo bueno que me dio Nuestro Señor!
¡Si no sé dónde ando, a dónde voy!

¡Siento los pasos del Dolor, esa cadencia
Que es tortura infinita, que es demencia!
¡Que es unas ganas locas de gritar!

¡Siempre es la misma pena, el mismo tedio,
La misma angustia honda, sin remedio,
Que tras de mí, no me quiere dejar!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)