"Ao vento", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas asperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há-de-rir, se há.de.chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim!... O vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir pla vida fora!!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)


AL VIENTO

Viene el viento a reír, vuelve a pasar,
A carcajadas ásperas, demente;
¡Y está mi alma, trágica y doliente,
Sin saber si reír, o si llorar!

¡Viento de voz tristona, voz gimiente,
¡Viento que ríes de mí, para mofar,
¡Viento que ríes del mundo y del amar,
Tu voz tortura a toda nuestra gente!...

¡Más te vale llorar, mi pobre amigo!
A solas, desahógate conmigo,
¡Y no rías así!... ¡El viento, llora!

¡¡Que bien conozco yo este rosario,
De nuestro pecho ser como un Calvário,
Y mientras, ir riendo por afuera!!...

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)