lunes, 18 de agosto de 2014

"Lágrimas ocultas", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




LÁGRIMAS OCULTAS

Si me pongo a pensar en otras eras
En que reí y canté y era querida,
Me parece que fue en otras esferas,
Me parece que fue en otra vida...

Y mi afligida boca dolorida,
Que ofrecía reír de primaveras,
¡Afina líneas graves y severas
Y cae en abandono de excluida!

Y miro, pensativa, hacia lo vago...
Toma el aspecto plácido de un lago
Mi semblante de monja de marfil...

Y si lágrimas lloro, blanca y calma,
¡Nadie las ve brotar dentro de mi alma!
¡Nadie las ve caer dentro de mí!

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

No hay comentarios:

Publicar un comentario