jueves, 21 de agosto de 2014

"Dizeres íntimos", de Florbela Espanca ("Livro de Mágoas", 1919)

É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento de Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: “Que linda a vida!...”
Responde a minha Dor: “Que linda a cova!”

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)




DECIRES ÍNTIMOS

¡Es tan triste morir a tierna edad!
¡Y voy a ver mis ojos, penitentes
Vestidos de morado, cual creyentes
De un sombrío convento de Piedad!

¡Y luego miraré (¡con que ansiedad!...)
Mis manos finas y languidecientes,
De blancos dedos, cual bebés dolientes
Que han de morir en plena mocedad!

¡Ser. joven es tener el Paraíso,
Tener la vía abierta, al sol, florida,
Donde todo es luz y gracia y risa!

Y mis veintitrés años... (¡Soy tan nueva!)
Dicen riendo: “¡Que linda la vida!...”
Responde mi Dolor: “¡Que linda cueva!”

FLORBELA ESPANCA (De Livro de Mágoas, 1919)
(Versión de Pedro Casas Serra)

No hay comentarios:

Publicar un comentario