"Eu venho de longe" de Maria Lua

Eu venho de longe
de muito longe
e carrego nos ombros
séculos de solidão...
Minha sombra errante
se dissolveu em silêncio
entre as folhas secas
das árvores do outono...

Eu venho de longe
de muito longe
e não me lembro
de nada
de ninguém...
Minha memória insone
se apagou sem saudade
sob o cintilar
incerto
das estrelas da noite...

Eu venho de longe
de tão longe
que sou apenas
o reflexo adormecido
de un sonho náufrago
além das ruinas do absurdo...

Eu venho de longe
de tão longe
que até já me esqueci
de preguntar quem sou...

Eu venho de longe
de bem longe
mas sob as raízes da distância
sem os limites do tempo
uma lembrança persiste
em minha alma andarilha...

Eu venho de longe
de bem longe
um barco na tempestade
em decidida viagem
para o Amor...

Maria Lua



Yo vengo de lejos

Yo vengo de lejos
de muy lejos
y cargo en los hombros
siglos de soledad...
Mi sombra errante
se disolvió en silencio
entre las hojas secas
de los árboles de otoño...

Yo vengo de lejos
de muy lejos
y no me acuerdo
de nada
de nadie...
Mi memoria insomne
se apagó sin nostalgia
bajo el titilar
incierto
de las estrellas de la noche...

Yo vengo de lejos
de tan lejos
que soy apenas
el reflejo adormecido
de un sueño náufrago
más allá de las ruinas del absurdo...

Yo vengo de lejos
de tan lejos
que hasta ya me olvidé
de preguntar quien soy...

Yo vengo de lejos
de bien lejos
pero bajo las raíces de la distancia
sin los límites del tiempo
un recuerdo persiste
en mi alma andarina...

Yo vengo de lejos
de bien lejos
un barco en la tempestad
en decidido viaje
hacia el Amor...

Maria Lua
(versión de Pedro Casas Serra)