“CANÇÃO EXCÊNTRICA” de Cecilia Meireles (De Vaga Música, 1942)

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-te num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
— saudosa do que não faço,
— do que faço, arrependida.

Cecilia Meireles, Vaga Música, 1942.


CANCIÓN EXCÉNTRICA

Ando a la busca de espacio
para el croquis de la vida.
En números me embarazo
y pierdo siempre medida.
Si pienso encontrar salida,
en vez de abrir un compás,
te protejo en un abrazo
y genero despedida.

Si vuelvo sobre mis pasos,
es ya distancia perdida.

Mi corazón, todo acero,
comienza a encontrar cansancio
en la busqueda de espacio
para el croquis de la vida.
Por exhausta y descreida
no me animo a un breve trazo:
— triste de lo que no hago,
— de lo que hago, dolida.

Cecilia Meireles
(Versión de Pedro Casas Serra)