POEMA DE NATAL, QUASE DE AMOR
Cristo nasceu.
Nascido permanece.
Contudo não lhe fui à manjedoura:
à medida que morro desaprendo
o caminho sonhado por meus pés.
Ervas encobrem sendas de Judá
que outrora palmilharam magos, bois.
(Já à beira do Sinai, nascem fragores,
não das sarças ardendo, mas dos ódios.)
Aos olhos de quem soube do menino
e se aventura a achá-lo, entre destroços
de uma Jerusalém abandonada,
não brilha mais a estela solitária.
Hoje são muitas, todos nos confundem
e indicam mil caminhos: nenhum leva
ao Cristo adormecido entre capim.
O cristal do seu pranto está perfeito.
Os mugidos perduram, sempre humildes.
A mensagem de amor, o incenso, a mirra.
A palavra dos anjos ainda soa,
mas já não racha o muro dos ouvidos
que, por nada escutar, ficaram moucos.
Por isso nosso amor é diferente:
imperfeito e aleijado — um fogo surdo
que apenas arde, queima, e não aclara
o nosso obscuro e inútil coração.
No pecado, que é nosso abismo e amparo,
está no entanto a chave, humana e esquiva,
do mundo que nos coube e o seu mistério,
— se aprendermos a amar. Aquém de mar
o pássaro no azul, importa amar
tão simplesmente o pássaro, sem céu.
Amar (sem recompensa), por exemplo,
a carne repelida porque enorme
e inerme, e azeda, e amarga, após o abraço.
E amar, sem tornar vil, nossa alma de homem
— aí, frágil, desvairada alma, tão grande
para abrigar tão mínima aventura,
com sua podridão angustiada,
que nos consome porque não sabemos
o caminho que leva à manjedoura.
Contudo não lhe fui à manjedoura:
à medida que morro desaprendo
o caminho sonhado por meus pés.
Ervas encobrem sendas de Judá
que outrora palmilharam magos, bois.
(Já à beira do Sinai, nascem fragores,
não das sarças ardendo, mas dos ódios.)
Aos olhos de quem soube do menino
e se aventura a achá-lo, entre destroços
de uma Jerusalém abandonada,
não brilha mais a estela solitária.
Hoje são muitas, todos nos confundem
e indicam mil caminhos: nenhum leva
ao Cristo adormecido entre capim.
O cristal do seu pranto está perfeito.
Os mugidos perduram, sempre humildes.
A mensagem de amor, o incenso, a mirra.
A palavra dos anjos ainda soa,
mas já não racha o muro dos ouvidos
que, por nada escutar, ficaram moucos.
Por isso nosso amor é diferente:
imperfeito e aleijado — um fogo surdo
que apenas arde, queima, e não aclara
o nosso obscuro e inútil coração.
No pecado, que é nosso abismo e amparo,
está no entanto a chave, humana e esquiva,
do mundo que nos coube e o seu mistério,
— se aprendermos a amar. Aquém de mar
o pássaro no azul, importa amar
tão simplesmente o pássaro, sem céu.
Amar (sem recompensa), por exemplo,
a carne repelida porque enorme
e inerme, e azeda, e amarga, após o abraço.
E amar, sem tornar vil, nossa alma de homem
— aí, frágil, desvairada alma, tão grande
para abrigar tão mínima aventura,
com sua podridão angustiada,
que nos consome porque não sabemos
o caminho que leva à manjedoura.
Thiago de Mello (O andarilho e a manhã, 1953-1955)
POEMA DE NAVIDAD, CASI
DE AMOR
Cristo nació. Nacido
continúa.
Sin embargo no me
acerqué al pesebre:
a medida que muero
desaprendo
el camino soñado por
mis pies.
Cubre la hierba sendas
de Judá
que otrora recorrieran
magos, bueyes.
(Ya junto al Sinaí,
nacen fragores,
no
de zarzas ardiendo, sino de odios.)
En los ojos de quien
supo del niño
y se aventura a
hallarlo, entre destrozos
de una Jerusalén
abandonada,
no brilla más la
estrella solitaria.
Hoy son muchas, a todos
nos confunden
e indican mil caminos:
no el que lleva
a
Cristo adormecido entre el forraje.
El cristal de su llanto
está perfecto.
Los mugidos perduran,
siempre humildes.
El mensaje de amor, el
incienso, la mirra.
Aún suena la palabra
de los ángeles,
mas las puertas no se
abren en oídos
que, por nada escuchar,
quedaron sordos.
Por eso nuestro amor es
diferente:
imperfecto y tullido —
un fuego sordo
que apenas arde, quema,
y no ilumina
nuestro
oscuro e inútil corazón.
En el pecado, sima
nuestra y amparo,
está la llave, humana
y huidiza,
del mundo que nos cupo
y su misterio,
— si ansiásemos
amar. Acá del mar
el pájaro en lo azul,
importa amar
el pájaro tan sólo,
sin el cielo.
Amar (sin recompensa),
por ejemplo,
la carne repelida por
enorme
e inerme, ácida y
amarga, tras abrazo.
Y amar, sin volver vil,
nuestra alma de hombre
— ay, frágil,
desnortada alma, tan grande
para albergar tan
mínima aventura,
con su angustiada
podredumbre,
que nos consume porque
no sabemos
el
camino que lleva hasta el pesebre.
Thiago de Mello
(Versión de Pedro Casas Serra)
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