O QUE ME ESPANTOU
Não foi a multidão indo para casa
(nós no meio dela, disfarçando),
cabeça baixa, as pernas pesadas,
seguindo a ordem que o inimigo lhe dava.
Eram operários, homens e mulheres.
Eram homens de todas as idades,
subindo silenciosos a Grande Avenida.
Nenhum brado, nenhum braço erguido.
Nem foi a organização perfeita do inimigo,
a pontaria espantosa de seus aviões,
o rigor implacável do seu ódio.
Nem a ingenuidade dos que atenderam
ao turvo e meloso apelo
da monstruosidade humana
repetido pelo rádio.
Pois acreditaram na idiosincrasia,
e de mão beijada se entregaronam
ao reino das trevas e do ranger de dentes,
onde até hoje, tirante os que foram mortos,
aprendem todos os escalões do escárneo.
O que me espantou foi o assombro
que de repente, desorbitado,
o chão fugindo, o ar faltando,
eu vi se erguer no olhar, no peito,
nas mãos que não se achavam,
daquele companheiro
marinheiro de tanto mar,
quando ele compreendeu,
depois de tanto acreditar amando,
que as barricadas, os grupos de combate,
os cordões de milhares, a vanguarda de fogo,
não íam chegar, não íam se erguer, não,
e que os planos e projetos de resistência
(escorriam de brasa as suas lágrimas)
eram planos e projetos de palavras.
(nós no meio dela, disfarçando),
cabeça baixa, as pernas pesadas,
seguindo a ordem que o inimigo lhe dava.
Eram operários, homens e mulheres.
Eram homens de todas as idades,
subindo silenciosos a Grande Avenida.
Nenhum brado, nenhum braço erguido.
Nem foi a organização perfeita do inimigo,
a pontaria espantosa de seus aviões,
o rigor implacável do seu ódio.
Nem a ingenuidade dos que atenderam
ao turvo e meloso apelo
da monstruosidade humana
repetido pelo rádio.
Pois acreditaram na idiosincrasia,
e de mão beijada se entregaronam
ao reino das trevas e do ranger de dentes,
onde até hoje, tirante os que foram mortos,
aprendem todos os escalões do escárneo.
O que me espantou foi o assombro
que de repente, desorbitado,
o chão fugindo, o ar faltando,
eu vi se erguer no olhar, no peito,
nas mãos que não se achavam,
daquele companheiro
marinheiro de tanto mar,
quando ele compreendeu,
depois de tanto acreditar amando,
que as barricadas, os grupos de combate,
os cordões de milhares, a vanguarda de fogo,
não íam chegar, não íam se erguer, não,
e que os planos e projetos de resistência
(escorriam de brasa as suas lágrimas)
eram planos e projetos de palavras.
LO QUE ME ASUSTÓ
No fue la multitud
yéndose a casa
(nosotros dentro de
ella, simulando),
cabeza gacha, las
piernas cansadas,
siguiendo ordenes del
enemigo.
Eran obreros, hombres y
mujeres.
Eran hombres de todas
las edades,
subiendo silenciosos la
Avenida.
Ningún clamor, ni
brazo levantado.
Ni fue la organización
del enemigo,
la asombrosa puntería
de sus aviones,
el rigor implacable de
su odio.
Ni la simpleza de los
que atendieron
al turbio y endulzado
llamamiento
de la monstruosidad
humana
repetido por la radio.
Pues creyeron en la
idiosincrasia de la gente,
y sin pedir nada a
cambio se entregaron
al reino de tinieblas y
crujir de dientes
donde hasta hoy,
exceptuado los que asesinaron,
conocen todos los
peldaños del escarnio.
Lo que me asustó fue
el asombro
que de repente,
desorbitado,
hundiéndose la tierra,
faltando el aire,
vi alzarse en la
mirada, en el pecho,
en las manos que no se
encontraban,
de aquel compañero
marinero curtido,
cuando entendió,
tras tanto creer en el
amor,
que las barricadas, los
grupos de combate,
las miles de hileras,
la vanguardia de fuego,
no iban a llegar, no
iban a levantarse, no,
y que los planes y
proyectos de resistencia
(sus ardientes lágrimas
escurrían)
(Versión
de Pedro Casas Serra)
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