APRENDIZAGEM NO VENTO
O vendaval findou.
Agora é só o vento
soprando a sua ferocidade
mais fria do que a pele
enrijecida e azulada
dos operários fuzilados.
O vendaval findou.
Agora é só o vento cotidiano,
implacavelmente morno, hálito podre.
É com ele que se tem de aprender
a lição do revés, vida vivida.
Dos tantos que saíram,
poucos, muito poucos, se reencontrarão
um dia, tomara, naquilo que foram
ou que não puderam ser.
Por enquanto, a cordilheira transposta,
o que se alteia
é o desvario da boca,
é cada vez mais o muro
entre a boca e a mão.
Agora é só o vento
soprando a sua ferocidade
mais fria do que a pele
enrijecida e azulada
dos operários fuzilados.
O vendaval findou.
Agora é só o vento cotidiano,
implacavelmente morno, hálito podre.
É com ele que se tem de aprender
a lição do revés, vida vivida.
Dos tantos que saíram,
poucos, muito poucos, se reencontrarão
um dia, tomara, naquilo que foram
ou que não puderam ser.
Por enquanto, a cordilheira transposta,
o que se alteia
é o desvario da boca,
é cada vez mais o muro
entre a boca e a mão.
Aos que sonhavam
mesmo, vendo o claro,
e que puderam permanecer
no coração ardente da sombra,
cabe o labor maior da aprendizagem.
É aprender com tudo o que foi feito
e também com tudo que deixou de ser feito,
como rasgar o caminho da esperança
que lateja, que lateja,
na frágua da paciência operária.
O vendaval findou. Telhados ocos
não poderão servir de abrigo a pássaros.
e que puderam permanecer
no coração ardente da sombra,
cabe o labor maior da aprendizagem.
É aprender com tudo o que foi feito
e também com tudo que deixou de ser feito,
como rasgar o caminho da esperança
que lateja, que lateja,
na frágua da paciência operária.
O vendaval findou. Telhados ocos
não poderão servir de abrigo a pássaros.
Thiago de Mello, Poesia
comprometida com a minha e a tua vida,
1975.
APRENDIZAJE EN EL
VIENTO
El vendaval acabó.
Sólo queda viento
ahora
soplando su crueldad
más gélida que la
piel
rígida y amoratada
del
obrero fusilado.
El vendaval acabó.
Queda el viento
habitual,
implacablemente tibio,
podrido aliento.
Con él hemos de
aprender
la
lección de la derrota, vida vivida.
De todos los que se
fueron,
pocos se reencontrarán,
muy pocos,
un día, ¡ojalá!, con
lo que fueron
o que no pudieron ser.
Por ahora, cruzada la
cordillera,
lo que se ve
es la insania de la
boca,
cada vez mas alto el
muro
entre
la boca y la mano.
A los que incluso
soñaban, viendo aclarar,
y que pudieron quedarse
en el ardiente corazón
de la sombra,
les corresponde la
mayor labor de aprendizaje.
Aprender con todo lo
que se hizo
y también con todo lo
que se dejó de hacer,
como abrir el camino a
la esperanza
que palpita, que
palpita,
en la fragua de la
paciencia obrera.
El vendaval acabó.
Huecos tapiados
Thiago de Mello,
Poesía comprometida con mi vida y la tuya, 1975.
(Versión de Pedro
Casas Serra)
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