UM MENINO CHEGA AO
MUNDO
Chegou ao mundo um
menino
mais sozinho que a primeira
estrela que acende a noite.
Nenhum pano o envolvia.
Além, do suave fulgor;
trazia o condão da infância
que aos homens faz tanta falta.
Bois não rodeavam o menino.
Nem burros. Puro silêncio
orlava o claro mistério
de um coração sem pecado.
Os pastores da comarca
cuidavam na madrugada
dos seus rebanhos. Os anjos
que navegam no céu
ao trabalho se deram
de anunciar que um menino
chegava com um recado
ao tempo da eternidade.
Mais que rês, trezentos mil
magos são que hoje dominam
os sortilégios das mirras,
dos incensos e dos ouros.
Mas nenhum deles chegou
com oferenda à criança.
As estrelas que nos cobrem
já mal sabem de caminhos
que levem o homem à frágua
onde se forjam milagres.
Os homens fugiram todos.
Infância já infunde medo:
Aquele recém-chegado
reacendia brasas murchas
e recordava que cinzas
escondem constelações
O menino, atravessando
mordidas e escuridões
não achou sequer lugar
numa estalagem do mundo.
Aconchegada na rua,
perdida ficou a infância
por entre as gretas escusas
da indiferença dos homens.
mais sozinho que a primeira
estrela que acende a noite.
Nenhum pano o envolvia.
Além, do suave fulgor;
trazia o condão da infância
que aos homens faz tanta falta.
Bois não rodeavam o menino.
Nem burros. Puro silêncio
orlava o claro mistério
de um coração sem pecado.
Os pastores da comarca
cuidavam na madrugada
dos seus rebanhos. Os anjos
que navegam no céu
ao trabalho se deram
de anunciar que um menino
chegava com um recado
ao tempo da eternidade.
Mais que rês, trezentos mil
magos são que hoje dominam
os sortilégios das mirras,
dos incensos e dos ouros.
Mas nenhum deles chegou
com oferenda à criança.
As estrelas que nos cobrem
já mal sabem de caminhos
que levem o homem à frágua
onde se forjam milagres.
Os homens fugiram todos.
Infância já infunde medo:
Aquele recém-chegado
reacendia brasas murchas
e recordava que cinzas
escondem constelações
O menino, atravessando
mordidas e escuridões
não achou sequer lugar
numa estalagem do mundo.
Aconchegada na rua,
perdida ficou a infância
por entre as gretas escusas
da indiferença dos homens.
Thiago de Mello (Silêncio e Palavra, 1951)
UN NIÑO LLEGA AL MUNDO
Un niño al mundo llegó
más solo que la
primera
estrella que abre la
noche.
Ningún paño lo
envolvía.
A más del suave
fulgor,
traía el don de la
infancia
que tanto falta a los
hombres.
Ningún buey rodeaba al
niño.
Ni burro. Puro silencio
orlaba el claro
misterio
de
un corazón sin pecado.
Pastores de la comarca
cuidaban de madrugada
a sus rebaños. Los
ángeles
que navegan por el
cielo
no se dieron el trabajo
de avisarles de que un
niño
llegaba con un mensaje
de la eternidad al
tiempo.
Más de unos
trescientos mil
son los magos que hoy
dominan
los conjuros de las
mirras,
los oros y los
inciensos.
Pero ninguno llegó
con
ofrendas para el niño.
Las estrellas que nos
cubren
no saben ya de caminos
que conduzcan a la
fragua
donde se forjan
milagros.
Huyeron todos los
hombres.
Ya infunde miedo la
infancia:
El niño recién
llegado
reavivaba mustias
brasas
recordando que cenizas
esconden
constelaciones.
El pequeño,
atravesando
pesares y oscuridades
ni siquiera halló
lugar
en posadas de este
mundo.
Aposentada en la calle,
perdida quedó la
infancia
entre cuarteadas
escusas
de
la indiferencia humana.
Thiago de Mello
(Versión de Pedro Casas Serra)
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