"O olhar" de Mario Quintana

O último olhar do condenado não é nublado sentimentalmente por lágrimas
nem iludido por visões quiméricas.
O último olhar do condenado é nítido como uma fotografia:
vê até a pequenina formiga que sobe acaso pelo rude braço do verdugo,
vê o frêmito da última folha no alto daquela árvore, além...
Ao olhar do condenado nada escapa, como ao olhar de Deus
- um porque é eterno,
o outro poque vai morrer.
O olhar do poeta é como o olhar de um condenado...
como o olhar de Deus.

Mario Quintana (Baú de Espantos, 1986)


La mirada

La última mirada del condenado no está nublada sentimentalmente por lágrimas
ni engañada por visiones quiméricas.
La última mirada del condenado es nítida como una fotografía:
vé hasta la hormiga más pequeña que acaso sube por el rudo brazo del verdugo,
vé el temblor de la última hoja en lo alto de aquel árbol, además...
A la mirada del condenado nada escapa, como a la mirada de Dios
- uno porque es eterno,
el otro porque va a morir.
La mirada del poeta es como la mirada del condenado...
como la mirada de Dios.

Mario Quintana (Baú de Espantos, 1986)
(Versión de Pedro Casas Serra)